Amizade é uma coisa muito legal e, quanto mais duradoura, melhor. Não vou mencionar quantidade, porque então eu estaria tratando de um assunto um tanto suspeito, já conheço pessoas que são felizes com um ou dois amigos enquanto outras defendem que a felicidade está em ter, pelo menos, cem ou duzentos. Cada um acredita e vive o que quer. Então vamos nos ater à longevidade.
Estava eu assistindo a um episódio de Will & Grace outro dia – série de comédia no estilo sitcom que trata da vida de Will e Grace, um cara gay que mora com a melhor amiga - e me deparei com uma cena que me espantou um pouco. Entenda que, se me espantou, é porque eu entendi o que ela quis dizer e, portanto, reagi àquilo. Se o que dizem é verdade, que a ficção imita a realidade, então a minha reação foi natural. Ainda mais por já ter vivido algo parecido.
Depois de cinco temporadas, Grace finalmente vai se casar e deixar Will, depois de muito tempo que eles moram juntos. Claro que isso é uma quebra de rotina daquelas, ainda mais para Will, que vai perder uma amiga e agora aprender a morar sozinho (não foi com essa parte que eu me identifiquei). Então, alguns episódios depois, quando Grace e Will estão sem se falar há muito tempo e o marido dela está viajando, o que permite que ela quebre sua nova rotina para poder ver um amigo, eles voltam a se ver e têm todo o tempo para isso. Will inclusive prepara todo o cenário para que eles façam o que já estavam acostumados a fazer, como assistir a um filme, comer queijo e provar vinho, se não me engano. Como sempre fazia, Grace toma o sofá e joga as pernas sobre as de Will, dizendo que o filme pode ficar para outra hora e que eles deviam conversar, pôr as fofocas em dia. Will concorda.
Mas nenhum diálogo surge.
E é esse justamente o ponto do episódio e do meu post. Will e Grace perceberam naquele instante que, depois de tanto tempo, não tinham mais intimidade nenhuma com o amigo que consideravam BFF. Eles não sabem mais conversar e, pior, não sabem se portar na presença do outro, quando estão sozinhos. Se há como piorar ainda mais, eles dizem que são melhores amigos, e eu duvido que não sejam.
E quem nunca passou por isso?
Crescemos tendo amigos que consideramos melhores amigos de sempre. Tornamo-nos adolescentes, eles continuam ao nosso lado. Tornamo-nos adultos, eles ainda continuam lá, mas muitas vezes através de mensagens de celular, do Facebook e dos encontros que acontecem vez e nunca. Faz parte. A distância, afinal, faz com que toda a história que um par ou um grupo de amigos teve durante vários anos seguidos de repente não signifique nada, o que causa a frieza num encontro simples. Quem nunca passou por isso?
Afirmar que alguém é o seu melhor amigo e de repente não se sentir à vontade na companhia dele. Por que isso acontece? Porque não temos o que falar? Talvez. E por que não temos o que falar? Porque fizemos novos amigos e deparamos pensando que nossas novidades são bem mais interessantes para eles do que para os antigos amigos? Talvez.
O que se percebe, então, é que, por mais que desejemos que as amizades sejam duradouras e que aquele sentimento de companheirismo perdure por muitos e muitos anos, temos que engolir que as coisas não são assim na maioria dos casos. Conhecer novas pessoas faz com que dividamos nossas atenções em menores quantidades. Namorar ou casar, então, é um ótimo pretexto para que algum tipo de intimidade entre amigos se vá, porque a intimidade do novo compromissado deve ser destinada a outra coisa/pessoa. Não podemos ser hipócritas e afirmar que, quando conhecemos novas pessoas, as antigas, por mais que continuem lá, não perdem um pouco da importância.
Não que isso seja uma coisa ruim. Novas rotinas exigem mudanças de pensamentos e de atitudes. Essas mudanças fazem com que antigas amizades se tornem novas coisas. Estou dizendo que devemos deixar os antigos amigos, então? Claro que não. Temos que nos adaptar. Ou pelo menos adaptar a amizade. Se mudamos, não vamos conseguir levar uma conversa de maneira natural se agirmos como antes. Não somos mais aquele. Soaremos falsos e nosso sorriso vai ser tão amarelo que a conversa não vai ser prazerosa.
O que muito certamente vai fazer com que os encontros entre antigos amigos aconteçam com menor frequência ainda.
Há como não deixar que isso aconteça, mas esse é um sacrifício que poucos estão dispostos a fazer. É só aparecer mais.
Porque melhor do que fazer novos amigos é manter os que já temos e lembrar histórias antigas enquanto criamos novas com aqueles que nos ajudaram a ser o que somos. Não há como discordar disso.
E a série é muito legal, viu? Realmente aconselho. |
Parabéns... Isso nos faz refletir melhor, gostei muito.
ResponderExcluirPrecisava, ler este texto... Precisava destas palavras no momento. Sinto que minha amizade mudou.
ResponderExcluirPrecisava, ler este texto... Precisava destas palavras no momento. Sinto que minha amizade mudou.
ResponderExcluirPerfeito
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